segunda-feira, 22 de março de 2010

Os Imortais.

Dos vales terrenos
chega até nós o anseio da vida:
impulso desordenado, ébria exuberância,
sangrento aroma de repastos fúnebres.
São espasmos de gôzo, ambições sem têrmo,
mãos de assassino, de usuários, de santos,
o enxame humano fustigado pela angústia e o prazer.
Lança vapores asfixiantes e pútridos, crus e cálidos,
respira beatude e ânsia insopitada,
devora-se a si mesmo para depois se vomitar.
Maquina a guerra e faz surgir as artes puras,
adorna de ilusões a casa do pecado,
arrasta-se, consome-se, prostitui-se todo
nas alegrias de seu mundo infantil;
ergue-se em ondas ao encalço de qualquer novidade
para denovo retombar na lama.

Já nós vivemos no gelo etério transluminado de estrêlas;
não conhecemos os dias nem as horas,
não temos sexos nem idades.
Vossos pecados e angústias, vossos crimes e lascivos gôzos,
são para nós um espetáculo como o girar dos sóis.
Cada dia é para nós o mais longo.
Debruçados tranqüilos sobre vossas vidas,
contemplamos serenos as estrêlas que giram,
respiramos o inverno do mundo sideral;
somos amigos do dragão celeste:
fria e imutável é a nossa essência,
frígido e astral o nosso eterno riso.

Um comentário:

la' gosta disse...

frigido e astral o nosso eterno riso..."..sei!