[A humilhação]
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Sem deixar vestígio.
Enquanto isso, as palavras mais famosas de Próspero não o deixavam em paz, talvez porque tão recentemente ele as havia estropiado. Elas se repetiam com tanta regularidade em sua cabeça que acabaram por se tornar um tumulto de sons tortuosos, esvaziados de significado, que não indicavam nenhuma realidade e no entanto tinham a força de um encantamento cheio de significação pessoal. "Findou nossa função. Esses atores,/ Tal como eu vos dissera, eram espíritos/ Que agora somem sem deixar vestígio." Não conseguia apagar a expressão "sem deixar vestígio", que se repetia de modo caótico quando ele permanecia estirado na cama, impotente, todas as manhãs, e que tinha a aura de uma condenação obscura, embora cada vez fizesse menos sentido. Toda a sua complexa personalidade estava totalmente à mercê daquele "sem deixar vestígio".
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